casa amarela

junho 29, 2009

Construída século passado, construída em minha memória. Ela, o acabamento concreto por onde minha perspectiva desembocava. Ela, o desenho emoldurado pala esquadria do meu quarto. Ela, e sua frente e seu jardim amarelados. Ela e aquela janela sempre aberta. Mudou-se ela, o tempo e eu. 

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SAIA

junho 16, 2009

saia preta de seda 

Saia da frente!

esvoasante saia 

Ingonorante! Saia!

 

Por vezes a melhor saída

é ignorar 

A imbecilidade que sai de boca de uns 

e servi-se da força  inteligente

de quem veste a saia …

 

Tempo

junho 16, 2009

TempoVoaTempoChuvosoTempoAmareloTempo

TempoInstanteTempoCaroTempoSentidoTempo

TempoTodoTempoNadaTempoPassaTempo

TempoCalmoTempoCorridoTempo

O que eu sinto não cabe em ti.

 

JCL

 

 

Geometria da Vida

junho 10, 2009

Triângulos 

 

 

 

                     ângulos                                                                                                                                                    retas                                         

 

 

 

Pontos

que se encontram!

 

 

 

 

Só espero  

que a geometria da vida 

não nos tangêncie!


DAda

junho 10, 2009

 

Eu Insistente   

                     Sou dada

Ou será  eu teimosia?

                     Eu Dada

Dizem que eu

                     A dar a cara  

Eu sou dada

                     A cara a tapa 

Dada a viver 

                     A correr atrás 

A Viver intensamente 

                     Pelos meus  sentimentos 

Eu sou dada

                     Eu soldada 

A sorri

                     A Trepar 

A Lutar..

                     …soldada.

 

JCL

Kriska

junho 4, 2009

“Vinha Kriska toda falante, os passos dos patins retinindo na calçada, os lampejos de letreiros e faróis na cara, mas nem bem sentamos à luz chapada da cafeteria do hotel, acendeu um cigarro e emudeceu. Pudera, aquele era um recinto tão vazio e despojado que depois de apontar as paredes lisas, a mesa de vidro, a cadeira de metal, o garçom de branco, a garrafa, o copo, o cinzeiro, o isqueiro, o fogo e o cigarro de marca Fecske, sendo fecske a andorinha impressa no maço, fiquei sem assunto para puxar. E uma boa meia hora permanecemos assim, olhando as cinzas no cinzeiro, porque não tinha como apontar as coisas que passava na minha cabeça, minha mulher em Londres, mas meninas de patins e Ipanema, a risada fina de meu sócio, o olho azul do meu cliente sem pestanas, o homem que escrevia em mulheres os escritores anônimos de Istambul, as meninas de patins em Ipanema, minha mulher  em Londres. Mas duas pessoas não se equilibram muito tempo lado a lado, cada qual com seu silêncio; um silêncio acaba sugando o outro, e foi quando me  voltei para ela, que de mim não se apercebia. Segui observando seu silêncio, decerto mais profundo que o meu, e de algum modo mais silencioso. E assim permanecemos outra meio hora, ela dentro de si e eu imerso no silêncio dela, tentando ler seus pensamentos depressa, antes que virassem palavras húngaras. Aí ela se sacudiu inteiram, como um calafrio fazendo a mochila escorregar pelas costas, e buscou um cartão de visita, que rabiscou com lápis e me entregou. E levantou-se e foi-se embora sem se despedir, deslizando de patins no tapete. Acho que me apeguei àquele silêncio, e afim de prolongá-lo me recolhi no quarto, onde passei o resto da noite olhando para o teto

 

BUARQUE, Chico. Budapeste.